top of page

Reportagens

Buscar

Moda sustentável e seus desdobramentos no mundo contemporâneo

Atualizado: 14 de nov. de 2018

Como o consumo desenfreado atinge o meio ambiente e qual o papel das marcas para produzir moda consciente

Foto: Instagram/eth_co

Por Bárbara Gaspar e Laís Fernandes


Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), o setor têxtil é o segundo que mais emprega dentro da categoria de indústria de transformação, representado pelas empresas que desenvolvem matéria-prima para um produto, consumo ou uso de outra indústria. Além disso, é a segunda área que mais gera primeiros empregos para os brasileiros há cerca de 200 anos, quando se instalou no país.


Mas um grande problema é que a indústria de moda sempre incentivou o descarte. As peças, sejam roupas, calçados ou acessórios, são compreendidas como "úteis" somente quando são tendências de mercado. E para atender a demanda, as marcas produzem cada vez mais e em maior velocidade. O excesso de produção exigido pelo mercado degrada significativamente o meio ambiente, retirando mais do que se consegue repor.


Além do material, as marcas que trabalham com fast fashion buscam cada vez mais mão de obra vasta e barata, o que acaba espalhando os processos de produção por várias regiões do globo. Além da degradação do meio ambiente, entram na conta a poluição dos meios de transporte.

"Para uma marca ser mais sustentável em seu processo de produção, ela poderia produzir mais localmente", afirmaram Bruna Daros e Priscila Misiuk Bajon, co-fundadoras do e-commerce sustentável Eth.Co, em entrevista ao Por Trás da Moda. "Cada parte de uma bolsa, por exemplo, vem de um lugar. Tem o gasto de levar tudo para o mesmo lugar, para reunir as peças e depois poder mandar para outros lugares, para a venda. Além do custo alto, tem a poluição do transporte", completou a dupla.


Enquanto o planeta sofre as consequências da ação humana, o bilionário espanhol Amancio Ortega, dono da rede varejista Inditex, que controla as marcas Zara, Massimo Dutti e Pull&Bear, superou, em 2016, o cofundador da Microsoft Bill Gates e assumiu o topo da lista dos homens mais ricos do mundo da revista Forbes. Em 2011, a Zara foi alvo de uma ação por denúncias de trabalho escravo. Inspeções do Ministério do Trabalho no interior paulista constataram condições degradantes, com alojamentos irregulares, falta de banheiros e dormitórios inadequados.


Nas mãos do público: consumo consciente


Com o desafio de viver com um guarda-roupas que cabe na mala, a jornalista Daniela Kopsch vivenciou de perto os desafios de driblar o consumo. Com o projeto Less Is The New Black, ela passou 365 dias com apenas 50 peças de roupas, para provar que é possível evitar o consumo exagerado e as compras desnecessárias.


Hoje em dia, mesmo depois do projeto ter chegado ao fim, Daniela continua usando poucas peças de roupas e entende que para ser uma consumidora saudável, é necessário descobrir qual é o seu verdadeiro estilo. "Examine-se profundamente e descubra o que você realmente gosta, respeite a sua personalidade e o seu corpo procurando coisas que combine com a pessoa que você é, e não o contrário, tentando se encaixar ao que o mundo da moda acha que você deveria usar", afirmou a jornalista em entrevista ao Por Trás da Moda.

Atualmente, são diversos os modelos de negócios capazes de suprir a necessidade do consumidor de maneira menos nociva ao meio ambiente. Daniela aposta nas pequenas marcas, já que elas "são as que melhor conseguem se adaptar a este novo tipo de cliente, pois podem trabalhar com uma linha de produção menor e mais controlada". Ela também destacou a importância de saber que a peça escolhida tenha sido criada sem exploração de mão de obra e que tenha qualidade para durar por muito tempo.


Boas alternativas para quem busca consumir conscientemente é apostar em brechós e em costureiras. Uma dica legal é a de Bruna Daros, da Eth.Co, que sugere buscar peças no guarda-roupas da mãe, das amigas e até mesmo do namorado. "Todo mundo tem peças que não usa, seja porque está grande ou pequena. Você consegue renovar o guarda-roupa sem comprar nada."


Desafios da moda sustentável


A redução de consumo nunca vai ser uma tendência, porque o mercado nunca vai querer vender pouco. Negócios como o e-commerce Eth.Co, que se preocupa com todos os aspectos de uma venda, desde a seleção da peça até a distribuição, estão cada vez mais presentes no dia-a-dia dos consumidores, mas o caminho que eles enfrentam não é dos mais fáceis.


Um dos principais desafios é desmistificar a ideia de que o produto sustentável é muito mais caro do que o restante. "Nós queremos atender todos os públicos. Então temos uma camiseta de R$ 300 e também uma de R$ 50. Não é a mesma identidade, não é a mesma coisa, mas todas atendem quesitos éticos e sustentáveis", afirmou Priscilla Misiuk Bajon, responsável pela área comercial da Eth.Co.


Outro ponto a ser vencido é a questão de logística, principalmente na hora de entregar os produtos. A Eth.Co, inclusive, implantou um sistema de entregas por bicicletas em São Paulo, para evitar a poluição causada pelos meios de transporte, mas esbarram na questão da distribuição para o resto do Brasil. "Usamos o correio, que tem um formato de caixa específico e não necessariamente conseguimos encontrar uma caixa reutilizada ou reciclada, então temos que ir na opção que está ali", revelou Bruna.


A ideia principal das marcas sustentáveis não é ir contra o consumismo – afinal, elas também precisam vender para sobreviver –, mas sim evitar o consumo exacerbado. O objetivo é vender uma moda melhor, o que só será possível quando as pessoas tomarem consciência da importância de preservar o planeta e seus recursos.


O futuro da moda sustentável


A onda eco fashion está começando a ocupar papel de destaque no cenário da moda e a ser inserido no dicionário fashion, principalmente porque deixou de ser produzida por marcas desconhecidas e ganhou etiquetas de grifes renomadas e grandes estilistas, como Stella McCartney.


Um dos pontos a ser destacado é a banalização da moda, que também contribuiu para essa mudança de percepção do consumidor sobre o produto. Aos poucos, as pessoas começam a perceber que quantidade não significa qualidade, e que é extremamente importante cuidar do nosso planeta da forma mais saudável que conseguirmos.


É necessário que o consumidor entenda que a moda e o consumo que ela prega geram um imenso impacto no ambiente – e tem desdobramentos. A mudança do cliente tem o poder de fazer com que as marcas a se transformem. Buscar alternativas que não maltratem o meio ambiente ou os animais e não incentivem o trabalho escravo é cada vez mais necessário para conseguirmos viver em um planeta saudável e garantir que não acabemos com os recursos naturais não renováveis. Consumir menos significa consumir de maneira mais consciente, buscando alternativas inteligentes para viver com apenas o necessário.

bottom of page