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Moda como instrumento de autoconhecimento e libertação

Atualizado: 14 de nov. de 2018

Conheça Paula Nadal, a consumidora que compartilha, diariamente, looks do dia no Instagram

Foto: Acervo pessoal/Paula Nadal

Por Bárbara Gaspar


"A primeira palavra que eu falei, segundo os meus pais, foi ‘que lindo’". Essa é a primeira memória de Paula Nadal sobre a sua relação com a moda. Em um fim de tarde, Paula me encontrou na B.LEM, pequena padaria portuguesa na Rua Dr. Virgílio de Carvalho Pinto, Pinheiros. Chega sorridente, à pé, pedindo desculpas pelo atraso de alguns minutos. Tinha acabado de sair do trabalho na agência Ideal H+K Strategies, onde atua como estrategista de comunicação e diretora de novos negócios. O look do dia, descrito minutos depois como "basiquinho" por ela, é composto por um casaco longo de pelúcia fake, com estampa de oncinha, que cobre um pulôver fino de gola alta e uma calça clochard, ambos na cor preta. Além dos cachos e da franjinha, o rosto da Paula é desenhado por uma armação de óculos de grau arredondada, na cor tartaruga, que combina perfeitamente com o casaco escolhido.

Apesar da estampa se destacar das demais peças, os looks da Paula são sempre ricos em estampas, cores e texturas. Nunca é possível capturar todas os detalhes à primeira vista. Talvez seja essa a proposta de uma composição. Comendo um bolinho de bacalhau, ela revisita memórias e histórias que a fizeram ter uma relação tão íntima e apaixonada com a moda, mesmo sem trabalhar nessa área.


As musas inspiradoras de Paula, que a fizeram se encantar pelo universo fashion, fazem parte da família. A mãe Indaiá e a tia materna Jô, cantora e cabeleireira, respectivamente, introduziram a moda na vida de Paula. "Elas às vezes se reuniam para trocar roupas e acessórios. Eu era pequenininha e adorava acompanhar aquilo. Mas era um momento muito íntimo, ninguém ali trabalhava com moda", contou.


Nascida no Paraná, ela morou em Ponta Grossa até 2006, ano em que terminou a graduação em Jornalismo na universidade estadual da cidade. Mesmo morando em cidade interiorana, Paula estava conectada com a moda e se vestia como queria. A partir das reuniões e trocas da mãe e tia, até seu pai começou a ter gosto pela moda. "Ele adorava vestir roupas diferentes, coisas boas. Então, acho que é todo um contexto da família. Eu sempre fui assim meio montada 24 horas por dia, sempre gostei de me arrumar, falta dedo para colocar anel", relembrou, apontando para as próprias roupas.

Fotos: Acervo pessoal/Paula Nadal


Recém-formada, a jornalista se mudou para São Paulo devido a uma oportunidade de emprego. Tinha feito inscrição para o curso de jornalismo na editora Abril quando estava terminando a graduação. Nessa época, ela era estagiária em um jornal. Foi selecionada pela editora, saiu de sua cidade e foi para São Paulo. O objetivo era fazer o curso, que durava cerca de dois meses. Mas ela não queria voltar. Apesar de não ter planejado a mudança, Paula sabia que Ponta Grossa oferecia poucas oportunidades de emprego para comunicadores e tinha vontade de se mudar para seguir seus planos de carreira.


De Ponta Grossa, onde a família mora até hoje, Paula Nadal leva referências de arte, moda e decoração: "Se eu revisitasse uma das memórias de reuniões de família, talvez acharia que era um monte de cafonice. Mas, para mim, eram as referências visuais da época. Minha tia Jô era perua. Lembro que o quarto e a decoração eram coloridos e vibrantes."


O ambiente familiar foi incubador do gosto de Paula pelas artes – embora ela acredite que não tem talento algum para a arte visual. Durante a adolescência, queria prestar vestibular para estudar arquitetura, porque sempre teve interesse em composição visual e arte que possa ser usada pelas pessoas. Com a influência de sua mãe, que era cantora, estudou música a vida inteira, além de fazer cursos de história da arte. Paula se nomeia "a louca do museu", porque vai em todas as exposições de arte em São Paulo.


"Aprendi a me divertir com a moda, a fazer disso um instrumento de diversão para os outros sabe. São pequenas libertações. Eu sou uma pessoa super regrada, faço mil coisas ao mesmo tempo, então a moda é uma pequena libertação."

Em 2007, após o curso da Abril, ela começou a trabalhar em comunicação institucional da Praça Victor Civita. Depois, teve passagens por veículos da Abril, como a Nova Escola e a revista Bravo. Durante o trabalho na empresa, era parada no corredor, quase toda semana, por alguém que elogiava seus looks e achava erroneamente que ela era repórter em alguma revista feminina da casa. Nesses episódios, a jornalista ficava quase brava, porque nunca quis trabalhar com isso.


"Moda é me colocar para o mundo de um jeito mais solto e mais interessante. Eu não sou uma pessoa necessariamente tímida, mas sou introvertida. E gosto de cor, de arte, de forma. Para mim, é uma forma de me expor para o mundo de um jeito que seja interessante e a partir daí começar uma conversa. É uma ferramenta de sobrevivência."

Ela não se identificava profissionalmente com esse universo fashion. Depois da trajetória de 6 anos no Grupo Abril, a comunicadora iniciou sua carreira em agência. "Quando eu fui trabalhar na Edelman, tinha um diretor de arte que todo dia falava ‘Paula, você se veste de um jeito muito diferente, você está perdendo dinheiro, deveria virar blogueira’. Eu ficava relutante. E ele achava que eu deveria fazer alguma coisa com isso, porque estava perdendo essa oportunidade", relatou.


A partir da provocação do colega de trabalho, Paula começou a usar seu perfil do Instagram para registrar e expressar seu amor pela moda. Ela via muitos amigos participando de desafios de posts diários, como compartilhar 365 músicas no ano e pensou que poderia fazer o mesmo com as roupas. Então, contou ao amigo que faria o desafio, publicando uma foto do seu look por dia. Não deixava de postar nem nos finais de semana ou feriados. Gostou tanto que, depois do período de um ano, continuou a publicar diariamente.


"O que eu descobri depois de postar looks do dia foi que, de fato, eu não quero ser blogueira. Mas descobri uma paixão pela moda que eu não sabia que tinha. Fez eu entender melhor as roupas que caem bem, o que gosto de usar. Fez eu entender que a moda tinha a ver com o meu humor, com a maneira com a qual eu me expressava. E foi muito legal. Eu não tenho nenhuma pretensão com isso, é só uma diversão", afirmou.


 

Compras com Paula Nadal: estilo e marcas favoritas de uma consumidora como você


Por Trás da Moda: Como você descreveria seu estilo?


Paula Nadal: A história do estilo, para mim, é diferente. Eu não gosto muito de me encaixar em vintage, casual, romântica ou esportiva. Acho que dá para você ser o que quiser. E o grande barato é esse: ser o que quiser, no momento e como você quiser. Mas eu sempre valorizo conforto, não gosto nada que me incomode, me aperte ou seja muito colado. Na hora de escolher uma peça, costumo olhar o conforto, materiais e tecidos (se é fibra natural).


PTM: Em que tipo de loja você costuma comprar? Consome fast fashion?


Paula: Gosto muito de procurar gente que produz de maneira manual, tento não consumir fast fashion. Também não tenho poder aquisitivo para comprar de grandes marcas de luxo, mas esses pequenos criadores sempre me atraem. Acho que é uma maneira de ter algo mais exclusivo – e eu gosto de exclusividade. De ter coisas que remetam à nossa cultura, que sejam mais genuínas. Se eu amo arte, vou tentar buscar esses criadores que estão empreendendo. Então, equilibro isso com fast fashion e outras coisas para eu poder me vestir respeitando o meu bolso.


PTM: Na hora de comprar, você costuma fazer uma pesquisa prévia? Como você acha essas pequenas marcas?


Paula: Sim, eu tenho alguns movimentos. Como eu gosto de moda, costumo ver os produtos em feiras como o Jardim Secreto. Gosto de visitar mesmo que eu não tenha nada de específico para comprar. Ali, você acaba conhecendo muita gente, e uma pessoa te leva à outra. Redes sociais também servem para isso. Gosto muito do Pinterest, para referências. No Instagram, já conheci várias marcas, uma me levando à outra. Às vezes, eu tenho um problema para achar os itens específicos que eu quero, como uma calça alaranjada, e não encontro essa peça de jeito nenhum por ser diferente. Acabo encontrando meses depois, mas nesse entremeio eu já achei alguém que vai fazer para mim.


PTM: É quase um movimento de garimpo, né?


Paula: Sim, eu adoro ir a brechós justamente por isso. Você consegue encontrar peças de valor. Teve uma vez em que eu fui a um brechó em Lisboa que achei muito legal: eles colocavam etiquetas nas roupas que levavam o nome a quem elas tinham pertencido. Achei demais, porque tem história. Adoro brechós, por ser um lugar onde você consegue ter coisas de qualidade, com preços acessíveis e que têm história.

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