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Tendências de moda: um retrato do cenário em que vivemos

Atualizado: 14 de nov. de 2018

As tendências vêm e vão em um piscar de olhos… Mas como elas são criadas?

Foto: Shutterstock

Por Anna Beatriz Oliveira


A cadeia de moda é complexa. Além de envolver fatores importantes como design e produção, antes de tudo o setor recebe diversas influências externas, como da sociedade e das artes. E é a partir da observação de comportamentos de determinadas áreas, e de um olhar analítico, que surgem as ideias com certo potencial para influenciar os consumidores e, desse modo, movimentar o mercado.


No entanto, em um dia algo pode estar em alta, e, no outro, totalmente "fora de moda". Então, quais indicadores apontam o que é fashion ou não em determinado período? Tudo tem início com as tendências, que ditam o que vai bombar ou não nas passarelas, na internet e nas vitrines das lojas – ou seja, o que de fato vai se tornar moda.


Para entender mais sobre o assunto, o Por Trás da Moda conversou com Marina Giustino, pesquisadora (trend forecasting) e caçadora de tendências (coolhunting coordinator) do Bureau de Estilo Renata Abranchs, que explicou a relação entre tendências, público e fast fashion.


Por Trás da Moda: Como você diria que surgem as tendências de moda?


Marina Giustino: As tendências de moda nascem da conjuntura de diversos cenários, sejam eles sociais, econômicos, políticos, artísticos ou comportamentais. A moda é um retrato daquilo que vivemos, por isso não se pode desvincular o que se passa no mundo das tendências da moda atual.


PTM: Como as tendências chegam à moda popular?


Marina: Tudo começa pelos Alfas ou “Inovadores”. Os Alfas costumam ser os propulsores desses comportamentos emergentes e novos códigos de vestir. Intuitivos, à frente de seu tempo, eles influenciam os grupos que os rodeiam e estão presentes em diversos recortes da sociedade, independente de classe social e gênero. É importante ressaltar que existem Alfas nas favelas, sim, entre outras possibilidades. As tendências não nascem exclusivamente das camadas mais altas da sociedade. Por exemplo, a estética dos "chavosos" e seus cortes de cabelo feitos com navalha. Dentro daquela comunidade, eles são "os caras" que vão influenciar toda uma galera. O Alfa age de maneira espontânea, sem nem se dar conta de que aquele jeito de agir e se vestir é vanguardista e inspirador.

Imagem: Por Trás da Moda

Logo após os Alfas, vem a turma dos Pioneiros (ou Early Adopters). São eles que vão olhar para os Alfas, captar o que estão fazendo e "dar nome aos bois". Por exemplo: "Ah! Então, essa calça curta com a boca larga é a pantacourt. Essa estética é tal, esse jeito de amarrar o lenço é isso...".


E então, só depois essa informação vai chegar ao que o consultor britânico Simon Sinek chama de Maioria Inicial (ou Early Majority), seguida pela Maioria Tardia (ou Late Majority). Nesse momento, é possível notar que a curva vive o seu ápice. Ou seja, a tendência chegou ao seu auge. Ela já está, por exemplo, presente no fast fashion, sendo vendida para a grande massa. A partir daí, essa curva começa a cair. Ou seja, essa tendência começa a se desgastar. Aquele Alfa que estava lá atrás, já está em outro mood. Já em processo final de existência, essa tendência chega aos Atrasados (ou Laggards). Pode-se dizer que é o fim da linha.


PTM: Como você vê a relação do público com as novas tendências? Principalmente aquelas que não são muito comuns e causam estranheza à primeira vista.


Marina: Toda tendência em início de vida causa estranheza. Os inovadores, aqueles que são vanguardistas, nunca serão prontamente compreendidos por aqueles que estão no auge da curva. Para que essa tendência chegue até o mainstream, ela ainda será muito mastigada e difundida, até que finalmente se torne aceita pela grande maioria.

Um exemplo são os sapatos mule. Quando a moda começou com a versão peluda da Gucci, causou muita estranheza. Naquela época, uma consumidora mais conservadora, por exemplo, olharia e diria "jamais usaria isso". Hoje, a tendência está presente em todas as lojas que se possa imaginar, completamente desgastada. Para chegar até ali, essa mule passou por diversos editoriais de moda, calçou os pés de diversas atrizes e modelos e apareceu diversas vezes na TV, por exemplo.


PTM: Podemos dizer que as tendências também são influenciadas pelo fast fashion?


Marina: O fast fashion se apropria das tendências e as populariza, tornando-as democráticas e mais acessíveis. Quando uma tendência chega ao fast fashion, pode-se dizer que ela está em seu auge. Dali para frente ela, provavelmente, irá se desgastar, até que finalmente chegue ao seu fim.


PTM: Qual a sua percepção sobre o consumo da sociedade hoje em dia?


Marina: Vivemos em uma era de muitos questionamentos sobre velhos modelos de consumo e comportamento. Pouco a pouco, os consumidores estão mais conscientes e exigentes, não tolerando certas práticas que antes eram consideradas "normais". As novas gerações despertaram para essas questões: o conceito dos armários-cápsula, do estilo de vida minimalista, do slow fashion, das roupas de segunda mão, do compartilhamento. Essa nova maneira de pensar tem incomodado muito as grandes marcas do varejo, que estão suando a camisa e correndo atrás pra acompanhar e se adequar à essa "Nova Era". O consumo desenfreado e o desperdício não se sustentarão mais por muito tempo. O futuro da moda será sobre pequenas novas marcas com consciência e responsabilidade.

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