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Silvana Holzmeister: “No Brasil, novelas influenciam muito mais do que revistas”

Atualizado: 14 de nov. de 2018

Com passagens pela Harper’s Bazaar, L’Officiel e Vogue, a jornalista comenta os bastidores das principais revistas de moda do país

Foto: Instagram/silvanaholzmeister

Por Anna Beatriz Oliveira


As revistas de moda são fontes de inspiração e informação para os amantes dessa arte. Trabalhar em redações de publicações como Vogue, Elle, Harper’s Bazaar, Glamour e L’Officiel, por exemplo, possibilita àqueles que atuam nesses veículos a abertura de um leque gigante no mundo fashionista, tornando-os verdadeiros conhecedores dos assuntos ligados à essa esfera – seja ao falar das tendências que estão por vir ou de como adaptar os looks das passarelas para o dia a dia.


Silvana Holzmeister é um exemplo. Jornalista especializada em cultura e moda, coleciona anos de experiência como editora em veículos já conhecidos por muito de nós: foi editora de projetos especiais da Vogue, editora-chefe da L’Officiel e editora de moda da Harper’s Bazaar. Silvana conversou com a equipe do Por Trás da Moda para falar sobre os bastidores dessa indústria e sua experiência na área.


Por Trás da Moda: Trabalhar em publicações como Harper’s Bazaar, L’Officiel e Vogue faz o profissional ficar por dentro de quais serão as próximas tendências. Como elas são escolhidas pelas editoras das revistas?


Silvana Holzmeister: É uma questão de educar o cérebro. Você passa a olhar muito para frente, a fazer projeções e cruzamentos: o que está acontecendo neste momento, o que vai acontecer daqui a seis meses e o que vai acontecer daqui a um ano. Isso porque precisamos analisar muitas temporadas de passarelas ao mesmo tempo. É preciso trabalhar com o factual – a estação que estamos vivendo –, e ao mesmo tempo projetar o que vai acontecer em um ano. Tudo está muito ligado à prática que o profissional tem na área.


PTM: Você acredita que as semanas de moda influenciam as tendências fashion? O Fashion Week continua sendo uma das principais fontes?


Silvana: Tanto as semanas de moda nacionais quanto as internacionais condensam o que nós costumamos chamar de tendência. Existe uma discussão crescente de que as tendências não existem mais: você pode escolher chamar isso que movimenta o mercado de tendência, de movimento estético, de novidade ou de lançamento. Mas, no final de tudo, estamos falando de caminhos estéticos que direcionam o olhar e a compra dos consumidores – o que os consumidores entendem que seja importante para determinada estação. No entanto, para o consumidor, é sempre mais fácil falar em "tendência".


PTM: Como as grandes revistas de moda influenciam na moda popular?


Silvana: Acredito que as revistas influenciam as marcas que fazem as roupas mais populares. Mas no Brasil é um pouco diferente: as novelas influenciam muito mais do que as revistas. Aqui os produtos televisivos têm uma força muito maior do que as passarelas.


PTM: O que falta no jornalismo de moda atualmente? A modalidade conseguiu se adaptar à necessidade do online?


Silvana: Falta descobrir um caminho que possa, inevitavelmente, trazer de volta um jornalismo de mais qualidade. Não existe como querer brigar com o imediatismo da internet. Pensando em uma revista, por exemplo, não adianta querer dar uma notícia em uma edição impressa sendo que a internet já falou a mesma coisa no mês passado. É preciso voltar às raízes do jornalismo, das reportagens, das entrevistas mais impactantes. De certa maneira, as revistas já estão indo para esse caminho e mudando os seus projetos editoriais. É preciso ter um jornalismo mais especializado e mais culto, que possa fazer todas essas costuras.


PTM: A moda no Brasil está muito concentrada em São Paulo e no Rio de Janeiro, apesar de existir muita produção em outras regiões. Você acredita que o jornalismo de moda dá pouco espaço para o que acontece em outros locais?


Silvana: Existe uma questão mercadológica, que trata de onde essas mercadorias estão disponíveis para venda. O acesso que temos – a existência dessas mercadorias, de designers e de estilistas – é maior em São Paulo e no Rio. As grandes capitais funcionam como hubs de comercialização. Existe uma lógica de abrangência: onde essas marcas estão, onde elas vendem e o alcance que elas conseguem. É por isso que as revistas acabam olhando muito mais para o que acontece nos grandes centros.


Em entrevista, Silvana conta como moda e comunicação estão mais entrelaçadas do que nós imaginamos.


PTM: Qual a sua avaliação sobre moda sustentável e os desdobramentos dela no mercado?


Silvana: Quando falamos de moda sustentável, existem vários parâmetros. Moda sustentável não é só aquela que é de reaproveitamento, é uma junção de vários aspectos. No entanto, de uma maneira geral, acredito que as marcas ainda usam o termo "sustentável" de forma errada, porque é preciso agregar várias coisas antes de dizer que você tem uma produção sustentável – como ter uma produção consciente e não poluir, por exemplo.


Temos um nicho de mercado de retorno aos ateliês que acaba conversando com esse guarda-chuva da sustentabilidade e que faz uma oposição ao fast fashion. Ao mesmo tempo tem sido uma saída de mercado para driblar a crise, já que não existem empregos para todo mundo e muita gente que sai da faculdade hoje acaba trabalhando com ateliês e produções menores. Então o mais interessante é que ainda que você não esteja contemplando todos os aspectos da moda sustentável, em algum momento você está conversando com esse movimento.


PTM: Como a moda está se transformando e se tornando mais diversa?


Silvana: Os ateliês são um ótimo exemplo, porque acabam atendendo a segmentos do mercado. Hoje existem marcas específicas para moda afro e moda plus-size que acabam fazendo um trabalho muito melhor por se tratar de algo específico, principalmente quando os designers fazem parte desses grupos. Quando algo é criado para um grupo a partir de uma necessidade própria, é possível criar um produto muito mais representativo.


PTM: Qual é o futuro da moda?


Silvana: Se existe algo que caracteriza o terceiro milênio é a chegada da tecnologia, discutimos muito para onde a moda vai caminhar a partir das novas descobertas tecnológicas. Falamos da internet das coisas e, por tabela, da internet das roupas: peças mais conectadas, a fibra ótica tecida junto ao tecido ou a roupa que facilita uma conexão. Tudo isso, que ainda hoje tem uma cara de ficção científica, está acontecendo em termos de pesquisa. A abrangência disso no mercado, no entanto, ainda vai demorar bastante tempo. Hoje, o mais próximo que temos de uma conexão entre tecnologia de ponta e o consumidor final é o projeto desenvolvido entre a Levi’s e o Google: um jeans (smart jacket) conectado, pensado para quem anda de bicicleta nas grandes cidades, com o qual você pode atender ao celular simplesmente tocando na roupa. O desenvolvimento desse produto levou quatro anos e chegou ao mercado dos países de primeiro mundo no início deste ano.


Fora estarmos caminhando na questão tecnológica, estamos revisitando o passado e continuamos trazendo elementos para o presente. Dentro desse aspecto, o mais moderno é termos a capacidade de juntar várias referências ao ponto de chegarmos em um produto inovador, de tão pet-working que se tornou.

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