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“Vejo a moda operando uma capacidade política”, diz André Carvalhal

Conheça a trajetória do diretor co-criativo da AHLMA, que lançou

seu terceiro livro

Foto: Instagram/carvalhando

Por Bárbara Gaspar


André Carvalhal, formado em Jornalismo e Publicidade, é conhecido entre os profissionais e consumidores que acreditam na moda sustentável como alternativa à produção fast fashion e ao consumo desenfreado. Após trabalhar em agências publicitárias, André fez pós-graduação em marketing digital no Rio de Janeiro e começou a trabalhar no departamento de marketing de empresas. A partir de então, traçou sua carreira em marcas de moda, transformou sua própria relação com a área e se tornou referência nesse mercado. Escreveu os livros "A Moda Imita a Vida - Como Construir Uma Marca de Moda" e "Moda com Propósito - Manifesto pela Grande Virada". No dia 23 de outubro, lançou sua terceira publicação, "Viva o Fim - Almanaque de um novo mundo".


O trabalho por quase dez anos no marketing da FARM, marca brasileira conhecida pelo design jovem de roupas estampadas e coloridas, foi um dos motivos para a mudança de Carvalhal. Fazer parte do mercado da moda permitiu que ele visse de perto como a produção e o consumo funcionam – e estão, aos poucos, nos levando ao fim dos recursos que fazem a cadeia fashion continuar existindo.


Esse "fim da moda", explicado por André em seu segundo livro, foi o início de grandes projetos em sua carreira. Diretor co-criativo da marca de roupas AHLMA, ele fez parte da criação da MALHA, movimento colaborativo por uma moda independente e sustentável, e da Surface Project, marca de design e arquitetura.


Confira a seguir os melhores momentos da conversa do Por Trás da Moda com André Carvalhal.


Por Trás da Moda: Qual foi o seu primeiro contato com moda?


André Carvalhal: Foi quando eu ainda trabalhava com publicidade, ao produzir uma matéria para uma revista. Era uma reportagem que falava sobre meninos do Rio e, na época, a marca Reserva estava surgindo. Eu produzi as roupas e fotografei os donos da empresa. Foi muito curioso porque, hoje, depois de tanto tempo, eu voltei a me associar com a Reserva. Depois do trabalho em publicidade, entrei na Farm, uma mudança não planejada, mas que foi muito determinante para a minha vida.


PTM: Quais personalidades e marcas te inspiram? Esses nomes mudaram ao longo do tempo, ao mudar a forma de consumo?


André: Os nomes mudaram muito ao longo do tempo, de uma forma bem coerente. Quando comecei a trabalhar com moda, tive um deslumbramento bem natural. Eu nunca havia tido contato com essa área e não tinha um estilo próprio. Logo que entrei na Farm, ou até antes disso, tive um momento das marcas de lifestyle, como a Osklen. Acho que a Farm representava esse estilo e eu comecei a me vestir muito desse jeito. Então, rapidamente, fui seduzido pelas marcas de luxo. Eu admirava muito a Chanel e a Louis Vuitton. Não para me vestir, porque aquilo não tinha muito a ver comigo, mas como referências.


Conforme mudava a minha forma de consumir e de ver a moda, passei a valorizar muito menos o luxo, o consumismo. Hoje, as marcas que me inspiram e que tenho vontade de ver e de falar sobre são as que estão usando a moda além das roupas. Coletivos, como o Brechó Replay e a Cacete, são marcas que usam a moda como um ato político, para reforçar discursos.


PTM: Quais foram os primeiros passos para a criação da AHLMA?


André: A AHLMA só existe por causa da MALHA. O grupo Reserva foi um dos apoiadores da rede. O CEO da marca, Rony Meisler, acreditou muito no projeto desde o início, investiu nele e, em contrapartida, pediu o licenciamento da marca MALHA para a criação de uma marca própria. E então nós entendemos que essa marca não deveria se chamar MALHA, porque uma coisa não estaria conectada à outra para sempre, que foi o que acabou acontecendo. Foi assim que surgiu o nome AHLMA, que sugere uma relação com a MALHA, mas que não chega a ser "Modas Malha" – não é algo tão direto.


PTM: Quanto tempo levou até a apresentação das primeiras peças da marca?


André: Nós trabalhamos por um ano antes da loja abrir. Foi um processo muito orgânico e espontâneo. Depois de criarmos o nome, entendemos o que a marca seria. A criação dela foi muito parecido com a da MALHA: eu reuni uma série de pessoas em um workshop, e elas me ajudaram a pensar no que gostariam de ver em uma marca nascida no presente momento. Elas contaram o que gostariam de usar, como gostariam de comprar e o processo foi construído de modo coletivo.


PTM: Você tem mais de 41 mil seguidores no Instagram. Você se considera um influenciador digital? Como você usa a plataforma?


André: Acho que sim, eu sou um influenciador, mas não só digital. Hoje, através de tudo o que eu produzo, tenho um alcance muito grande de pessoas que dão credibilidade, se aprofundam e acreditam nas coisas que eu falo. Mas tenho muitas dúvidas de como usar pessoalmente a rede social, porque acho que tem muito a ver com vocação. Eu não sou uma pessoa que gosta de aparecer, de se promover. Acredito que a minha influência se dá por outras formas – como palestras e livros –, plataformas que me deixam mais à vontade.


PTM: Como você vê o futuro da moda?


André: Tenho duas visões. Uma delas é a de que estamos caminhando para uma moda com mais propósito – muito além de moda sustentável, porque já entendi que é impossível ter uma moda 100% sustentável. Mas é possível, sim, ter moda com propósito, onde a marca e cada profissional podem ajudar a resolver alguns dos problemas que estamos enfrentando no mundo – sejam eles ambientais, culturais ou sociais. A outra visão é a de que estamos provocando muitos impactos e, ao mesmo tempo, fazendo nada: pouco do que fazemos pode ser eficaz para a salvação do planeta.

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