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Entre mãos: o artesanato em joias e acessórios

Atualizado: 14 de nov. de 2018

Como funciona o trabalho de designers que optam pela produção

manual de suas peças

Foto: Instagram/marinadomingues

Por Amanda Ravelli e Bárbara Gaspar


O artesanato e as artes manuais têm muito a ver com a capacidade criativa e expressiva do ser humano. Desde os nômades, as primeiras sociedades, as peças e bens artesanais eram usados pela praticidade, em forma de vasos e cumbucas. Com as descobertas da fabricação de cerâmica, o polimento de pedras e a própria tecelagem, as produções destes produtos foram evoluindo e hoje assumem um papel ainda mais artístico.


Hoje, na era do fast fashion, os produtos artesanais, em especial acessórios, competem com um mercado em que as peças são produzidas mais rápido e têm custo mais baixo. Por outro lado, com a ascensão de assuntos como sustentabilidade e transparência, além do uso de novos materiais, os consumidores estão valorizando cada vez mais o trabalho manual. Novas marcas de joias surgiram com esta proposta de produção, que está recebendo bastante destaque na mídia.


 

De construções à joias: o trabalho minucioso da designer Ana Paula Calbucci


Existe algo em comum entre a criação de joias e o planejamento de uma casa? Para Ana Paula Calbucci, os dois trabalhos podem estar interligados. A arquiteta formada pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), da USP, sempre teve grande interesse pela arte. Desde os 13 anos, achava que seria arquiteta porque gostava muito de desenhar. "Além de desenhar, sempre tive muito jeito com as mãos. O trabalho manual estava presente na minha vida, com a pintura e a costura", explicou Ana em entrevista ao Por Trás da Moda.


Foi após uma viagem para Paraty, onde Ana conheceu uma dona de pousada que criava anéis, que ela deu o primeiro passo para a sua carreira como designer. Quando voltou para São Paulo, comprou materiais e começou a produzir peças sozinha, com a base que tinha de arquitetura. Com os primeiros anéis vendidos, decidiu se aprofundar na técnica do design de joias.

Iniciou o curso de joalheria no Ateliê Escola Renato Camargo. "O primeiro exercício era fazer um anel, cortando a chapa de prata. Meu desenho era muito elaborado para quem estava começando, por causa da formação em arquitetura. Então resolvi pegar um papel como material e fui criando o modelo na minha própria mão", relembrou a designer, hoje com 10 anos de experiência na área. Ela contou que, no começo, era difícil se desvincular das suas referências arquitetônicas: "O primeiro anel tinha uma nítida inspiração da construção do museu Guggenheim, nos Estado Unidos. Hoje estou mais treinada para deixar essas referências um pouco de lado".


Para Calbucci, o diferencial é que ela não é apenas uma designer, mas também faz as joias com as próprias mãos. Ela descreveu seu processo criativo como um período de criação bem longo e intenso, com muita inspiração da natureza. "Fico pensando em uma forma e tenho uma urgência de que aquela ideia se viabilize. O desenho é o primeiro impacto, mas o material vai me levando para outro caminho. Às vezes, o resultado não tem nada a ver com o desenho ou com o material", finalizou.


 

O Por Trás da Moda também conversou com a jornalista Marina Domingues, que teve passagens em veículos como Estadão, Glamour e Steal The Look. Há quatro meses, Marina decidiu criar sua própria marca, a Bonica Cerâmicas, e vender acessórios de cerâmica feitos à mão por ela mesma. Seus produtos já foram divulgados em revistas como Vogue Brasil e em campanhas publicitárias, como a da Pantys. A entrevista completa você confere abaixo.


Por Trás da Moda: Qual foi o seu primeiro contato com a moda?


Marina Domingues: Minha avó costurava para a Daslu. Então eu tenho essa relação com moda desde sempre, mas nunca pensei em criar roupas. Quando chegou a hora de escolher o que estudar, descartei a possibilidade de fazer um curso de moda porque eu não sei desenhar e sou péssima em tarefas manuais. Então decidi que faria Jornalismo e, a partir dessa graduação, seguiria carreira em moda. E deu certo.


PMT: Como é a sua relação com o modelo fast fashion?


Marina: Penso muito que, se eu critico essa cadeia, não posso mais consumir o que faz parte dela. Estudei muito sobre isso, sobre o modelo da cadeia, todo o negócio em si, e foi me dando uma agonia. Eu parei de comprar em fast fashion há dois anos, e é muito difícil no começo. A indústria da moda é feroz, muito suja, tem muito trabalho escravo. Sempre falo que quem quer começar a consumir moda de maneira consciente não deve ir ao shopping, porque gera uma ansiedade a cada vitrine, você quer comprar tudo.


PTM: Como se desenrolou a sua mudança de hábito de compras?


Marina: Eu comecei a procurar produtores que faziam parte de feiras, procurei ver quem que fazia aquelas coisas. Naquele momento me interessei muito pela cerâmica. Em 2018 fiz o primeiro módulo de um curso de modelagem de cerâmica. Em abril, comecei a pensar nas possibilidade além das canequinhas e cumbucas. Então encontrei na Internet coisas bacanas e pensei em fazer um pingente para usar.

Fotos: Bárbara Gaspar


PTM: Foi a partir daí que você pensou em fazer mais produtos?


Marina: Sim! Mas a primeira leva de produtos tinha 5 brincos e 2 colares, que fiz e comecei a usar eu mesma. Então as pessoas começaram a me perguntar de onde eram os meus brincos e eu contava que tinha sido eu mesma que fiz. E eu dava para quem queria também. Então percebi que tinha muita gente gostando do que estava fazendo, então fiz ainda mais. A outra leva tinha 15 peças e esgotou em 3 dias. Então fiz mais uma e publiquei no Instagram para vender mais, e foi assim que surgiu a marca, em julho de 2018.


PTM: De onde vem as inspirações para fazer os modelos das suas joias?


Marina: Eu vou na Internet e pesquiso coisas bonitas; quando encontro salvo as fotos. Eu nunca sei fazer igual, e é daí que se cria uma coisa nova. Até os modelos fixos não saem iguais, porque na hora é tudo na mão. E acho que a graça é exatamente essa, nunca ser igual.


PTM: Como é o seu processo de criação e produção?


Marina: Costumo ir ao ateliê e abrir uma placa bem grande de cerâmica; nela eu vou desenhando o que eu quero, e se ficar ruim eu amasso e começo de novo. Não tem de fato um processo criativo, costumo testar modelos diferentes toda hora. Às vezes dá errado, às vezes eu quebro a peça e derrubo no chão. Eu moldo, pinto e colo as peças. E demoro para produzir, geralmente faço vários acessórios de uma vez. É slow fashion, tenho um limite de produção por mês. Talvez no futuro possa ser um pouquinho maior, mas nunca será fast fashion.

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