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A marca de 50 milhões

Um perfil de Raphael Sahyoun, o estilista responsável pelo sucesso da Bobstore

Foto: Instagram/fashionmeeting

Por Amanda Ravelli


Não dá para negar que a Bobstore é um dos nomes brasileiros mais bem sucedidos e sólidos no mercado. Mas a trajetória de Raphael Sahyoun, fundador da marca, não foi nada fácil. A Bob, como ele próprio apelidou a loja, nasceu em uma época turbulenta da vida pessoal do estilista – durante o Fashion Meeting, evento que ocorreu em Abril deste ano no Museu da Imagem e do Som, ele compartilhou a história, que começou em 1996.


Récem-divorciado e com três filhos, ele não tinha condições de investir uma quantidade alta de dinheiro para começar seu negócio. "Eu tinha um quintal e duas edículas, em uma pequena casa de 50 m² em Moema. Em uma edícula eu fiz meu quarto; meu armário era uma arara para pendurar minhas roupas. Na outra, coloquei uma mesa de corte e duas máquinas de costura e ali começou a história toda. Não tinha ninguém, era só eu", ele explicou.

O trabalho começava às 5h da manhã, quando ele criava os modelos, comprava tecidos no Brás e colocava à venda na loja. "Ali era minha casa, o escritório e a loja. Eu vivia aquilo 24 horas por dia, 7 dias da semana. Tudo era vendido a preço de custo", complementou. Após dois anos vivendo esta rotina, Raphael começou a entender quem era sua clientela, quesito essencial para o sucesso de qualquer marca.


"Na moda, você trabalha com emoções, com sonhos e pessoas"

Um dos maiores sucessos da Bobstore, as peças de tricô, foram criadas por acaso: "Encontrei um amigo na praia, ele tinha uma loja nos jardins e comentou que vendia muitas roupas de tricô. Fui ao Bom Retiro, comprei umas blusas, tirei a etiqueta e coloquei na loja. E elas começaram a vender bem". Depois de um tempo, Raphael foi atrás de oficinas de costura e encontrou um casal de idosos no Jabaquara, região sul de São Paulo, que tricotava – eles então passaram a fabricar a coleção da Bob.

A abertura da Bobstore em shoppings como Iguatemi, Morumbi e Higienópolis desencadeou um enorme interesse em empresários, que queriam abrir lojas da marca em todas as regiões do Brasil. Mais de 15 anos depois de sua fundação, a marca soma 50 franqueados e 10 lojas próprias em São Paulo.


Em 2011, a marca foi vendida para o grupo InBrands, que administra a Ellus e a Tommy Hilfiger, em um valor de compra estimado em torno de R$ 50 milhões. O plano inicial era Raphael permanecer como diretor-geral por cinco anos, até o final do contrato em 2016. No entanto, o estilista se afastou do cargo um ano após a negociação. "De repente eu acordei e aquela minha rotina diária tinha acabado. Na moda, você trabalha com emoções, com sonhos e pessoas. Na InBrand, eles pensavam só em números. Eu não aguentei e saí", esclareceu o estilista.


Quatro anos depois de sua saída oficial da Bobstore, Raphael decidiu voltar para o mercado da moda. Neste meio tempo, ele havia se dedicado ao ramo de decoração. "Minha vida sempre foi a moda. Não sabia se teria pique, se eu já estava ultrapassado. É muito ruim acordar e não saber o que fazer. Voltei por paixão mesmo", ele comentou. Foi então que nasceu a Twenty Four Seven, em fevereiro de 2017.


Fila final da Twenty Four Seven durante o Fashion Meeting, que aconteceu em abril deste ano, no Museu da Imagem e do Som


Com o lançamento da Twenty Four Seven, donos de antigas franquias da Bobstore começaram a fechar suas lojas, adotando a nova marca de Raphael. "Fechamos julho com 26 lojas por todo o Brasil, isso tudo pelo trabalho que fizemos lá atrás e pela confiança que tinham em mim. Isso, para mim, é a maior realização que pode haver."


Raphael não se considera alguém que lança tendências ou as segue fielmente. Ele afirmou que as suas roupas são comerciais, feitas para o dia a dia das mulheres reais, que saem de manhã de suas casas e têm inúmeras atividades a serem cumpridas: "A mulher vai sair da loja pronta para o que der e vier. Eu enxergo muito essa consumidora para quem a gente faz roupas."


Ao longo da carreira, o estilista percebeu uma notável evolução do consumidor. Devido às mídias, redes sociais e a ascensão das blogueiras, as pessoas têm muito mais acesso e compreensão da moda – este fator, somado às dificuldades financeiras do Brasil, geram um desafio para as marcas. "Realmente está muito mais difícil a venda para esta consumidora, ela tem muito mais conhecimento de moda do que antigamente."

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